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quinta-feira, 25 de maio de 2023

The first of them

 


        Agora, nós já estamos terminando. Somos as últimas folhas da caatinga caindo na acendalha de uma estiagem eterna. Até onde chegaria a nossa Evolução se continuássemos aqui por mais alguns milhares de anos? Sabe o que é curioso?... Eu sempre quis ver o fim do mundo. Egoísmo? Não sei, mas também queria ver o que seria do mundo sem mim. Talvez seja este mundo agora. Assim... Sei nem se a gente ainda está aqui.

Os poucos que nasceram depois da pestilência não duraram muito. Nem chegaram a aprender a falar direito. Não sabiam de nada. Nem sei se a gente pode chamar de ser humano... apesar da casca ser a mesma, por dentro eram todos ocos, mas também, nós não conseguimos ensiná-los muito bem sobre nada. Era só tentar sobreviver. E não dá para sobreviver carregando uma criança que nem sabe correr ainda, chora, come... Eu mesmo não dei conta disso.

Era 2023. Nem me lembro quanto tempo passou depois disso. Nos perdemos nas contas ou as contas se perderam propositalmente. A humanidade tinha acabado de sair de uma pandemia violentíssima... havia uma renovação da confiança na Ciência... a vida voltava à naturalidade. Shows lotados, muita gente nas ruas, estádios lotados... E foi justamente aí que começou o nosso flagelo.

Depois de quase trinta anos, o Botafogo venceu o campeonato brasileiro. O motivo de alegria, choro, pagamentos de promessas e muita zoação – tanto dos que perderam pelos que venceram – também foi a centelha no nosso fim. De uma hora para a outra, por mais impressionante que possa parecer, milhões de camisas do alvinegro carioca passaram a ver a luz do sol depois de décadas. Muita gente nem lembrava que tinha camisa, nem que já tinha comemorado um título, fora muita gente que nasceu depois disso. Teve gente que herdou ou guardou uma camisa como lembrança de um pai, tio ou avô e quis, também, usar em sua homenagem... Botafoguenses ou não.

Foram tantas camisas guardadas, desgastadas, amareladas e mofadas circulando pelo país que houve uma grande onda de alergia que, basicamente, fez com que os seres humanos fossem semeadores de vários cruzamentos de fungos. De tanto espirro e escarro, esta grande orgia cogumelar originaria o Cordyceps Botafoguensis, nosso algoz. E para fungos não existe vacina, muito menos funcionariam remédios de verme.

Rodrigo Slama, 25/05/23
           
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          *Imagem do Google
            

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