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Pipoca de graça, sinapses invadidas

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  Semana bosta. Preguiça, ansiedade. Gente fazendo merda. Livros não caem do céu, que burrice! Mas é isso. É sábado e tem peça legal e de graça na Rampa. Tem que chegar cedo para pegar lugar e aproveitar a pipoca de gratuita. – Eles fazem peça de graça e dão pipoca por que são bons, pai?   – Não. É para ter desconto no imposto. – Mas isso é ruim? – Não, todo mundo ganha. A gente, o artista e a empresa que se promove. – Ah – disse em tom de “entendi” e encerrou o assunto. Se ela entendeu, quem, diabos, sabe? Às vezes, é mais esperto se fazer de doido para não endoidecer de verdade. Preciso anotar isso. – Quer pipoca? – Sim. E fomos para a fila. Três filas. Três grandes filas. Pipoca de graça, tudo bem. No fim de uma delas, apenas, sacos cheios de pipoca nas mãos dos que esperavam. – Qual a diferença entre as filas? – Esta é paga, as outras duas são de graça. – Ah, Obrigado. – Hei, vamos para a fila da pipoca de graça!          ...

Maconha, Rivotril, Tadala

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    Ele já estava estressado pelo jogo da Eurocopa. Nos últimos tempos, não eram só os jogos dos campeonatos do Brasil que via, mas maratonava, ensandecidamente, qualquer jogo transmitido ao vivo em telas tortas do YouTube. Era melhor ver futebol do que só falar de eleição, pelo menos. Hoje, as telas da TV e do celular estão em simbiose, antes só um ou outro. Droga! Ambos fazem parte de sua cognição lapidada para se aproveitar da segurança do lar para fazer qualquer coisa que achava que quisesse.                “Olha só! Além de poder abortar, agora tá liberado fumar maconha. Faz o L!”. Dizia irritado ao olhar o WhatsApp. Não adianta discutir com ele. É teimoso... E   estava irritado porque a Holanda perdeu. Ah, não... ele não tem nada de Holandês, mas certamente perdeu, de novo, dinheiro para a tal da bet. Curioso, não é?... a outra Beth roubava da África e morreu santa... Agora outras bets tiram d...

Desígnio e despropósito

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  Novo escritório, novo emprego. Casos de família, herança, briga de vizinhos por mangueira no meio dos lotes... Doutora Tereza estava num bom momento de sua vida.           – A doutora é casada? – perguntou a recepcionista. Uma senhora indistinta, seus sessenta anos e poucos.              – Boa tarde, Dona Socorro. Por que a pergunta?            – Ah, não leva a mal não, doutora. Que a senhora tem tantos anéis nos dedos, que não dá pra saber de aliança.             – Eu gosto de anéis, mas, sim, tenho um companheiro.               – Então não é casada...             – Como não?             – Mulher casada tem marido. Foi na igreja o casamento?             – Não – respondeu Tereza, um pouco constrangida. Mal tinha começado no ...

A colônia dos velhos sisudos

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  Estava cada vez mais difícil controlar os velhinhos. Se dessem mais drogas, não acordariam. Era a colônia dos velhos sisudos. A grande maioria era homem, todos ali não sabiam amar. E já faziam hora extra. Já estavam esquecidos, definhando, enteiando. Evidentemente, algo tinha que ser feito. Chamaram uma nova fisioterapeuta. Garota vanguardista. Analisou a clientela, em corpo e lisura. Sabia que seria difícil, porém aceitou. Seria sua primeira experiência registrada... era recém-formada, nem sabe ao certo como foi chamada para uma entrevista... Começava o período de experiência e deveria conquistar aqueles velhos carrancudos.   Na primeira semana, tudo ótimo. Moça bonita, simpática. Mas logo enjoaram. Ninguém tentou mais impressionar a profissional levantando um halter de meio quilo. Teve que bolar um plano. Eles, apesar dos oitenta médios, eram apenas meninos. Jogos iriam ajudar. Deu certo. Até demais. Brincadeiras, à primeira vista bobas, revelavam-se uma potente ferr...

The first of them

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            Agora, nós já estamos terminando. Somos as últimas folhas da caatinga caindo na acendalha de uma estiagem eterna. Até onde chegaria a nossa Evolução se continuássemos aqui por mais alguns milhares de anos? Sabe o que é curioso?... Eu sempre quis ver o fim do mundo. Egoísmo? Não sei, mas também queria ver o que seria do mundo sem mim. Talvez seja este mundo agora. Assim... Sei nem se a gente ainda está aqui. Os poucos que nasceram depois da pestilência não duraram muito. Nem chegaram a aprender a falar direito. Não sabiam de nada. Nem sei se a gente pode chamar de ser humano... apesar da casca ser a mesma, por dentro eram todos ocos, mas também, nós não conseguimos ensiná-los muito bem sobre nada. Era só tentar sobreviver. E não dá para sobreviver carregando uma criança que nem sabe correr ainda, chora, come... Eu mesmo não dei conta disso. Era 2023. Nem me lembro quanto tempo passou depois disso. Nos perdemos nas contas ou as contas se ...

Entre sapos, pombos e cookies

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– Cara, tu já reparou no cocô do sapo? – Como é, mano? – O sapo, pô. O cocô! – Claro que não! Ó as viagem... – Cara, eu vi um sapo cagando metade dele de bosta. – É o quê? – chega engasgou rindo. – É, pô. Um sapo, tá ligado? Cagou quase a metade dele de bosta. – Isso é impossível! – Rapaz, eu tô dizendo! Fui ver, o sapo come mosca pra caralho por dia. A gente ia tá muito fodido sem sapo, viu? – Mas de onde você veio com esse papo de sapo, doido? – Ouxe! Tu já reparou no cocô do sapo? – Puta-que-me-pariu, eu tenho mais o que fazer! – Pois eu vi. – E daí, viado? Que que tem o sapo cagar grande? – Que que tem? Que que tem que ainda bem que é sapo! – Ouxente!? – Já pensou se fossem pombos? – É o que, noiado? – Já pensou se os pombos cagassem quase metade do corpo de bosta? – Que papo de doente, cara... – Mas, digaí, já pensou? – Ia ser uma merda! – Ia sim, Quinta série! – rindo somente pela imaginação e pela amizade. A piada, claro, foi rasa. – Pombo come o quê? – N...

As férias de Cristo

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    Depois de muitos anos sem pisar na Terra, resolveu ir num lugar que não frequentava muito. Pegou a mochila, um mapa impresso e um casaco pesado. Queria ver as pinturas sobre ele de que tanto falavam. – Museu grande da porra! Maior que muita igreja por aí! – pensou boquiaberto o Senhor. Foi pegar um guia, tinha de um bocado de idioma, menos no seu. Quem liga para a língua de Jesus? ... Passou de sala em sala. Mirou. Achou estranho ser pintado como um homem bem branco, mesmo nascido no árido... Andava e revia o mesmo retrato de sua vida. Se via apenas como um signo, limitado.   – Meu Senhor, chegou antes do previsto das férias? – Pois é, Biel. A galera lá é muito esquisita. Só tem pintura minha sendo morto. – Não é de se estranhar, Senhor Jesus! A Sua morte é simbólica para a Humanidade... marca seu tempo, sua moral... – Sim, mas SÓ me pintam morrendo... no máximo ressuscitando. Fiz tanta coisa, mas só querem mostrar meu sangue, meus olhos, minha coroa de ...