A primeira vez, me senti suja.
Ele levantou o meu vestido e tocou em mim. Resisti, ameacei gritar. Foi embora.
Não sabia se agradecia a Deus pelo livramento ou o culpava por ter permitido
aquilo. Chorei, tomei banho. Enquanto lavava os meus seios ainda muito pequenos
que tinham despertado o desejo imundo dele, pensava se aquilo aconteceria de
novo.
Da segunda vez, ele veio
preparado. Tapou minha boca antes que eu pudesse gritar chamando por alguém que
estivesse distante. Tudo era longe. Com a mão livre, ele apertava forte os meus
peitos, e enquanto eu sentia seu pau endurecer, ele me alisava entre as pernas.
Me lambia o pescoço e cheirava a mão. Um barulho vindo de fora interrompeu sua
festa.
Eu pensava o que tinha feito
contra Deus para que ele permitisse isso. Antes que eu pudesse pensar em contar
para alguém, ele veio até meu quarto à noite. Me ameaçou. Mataria a minha mãe,
o meu irmão e depois me mataria. Apertou meu pescoço até me sufocar para provar
o quanto sua palavra valia. Chorando, não produzi nenhum som e toda hora
tentava não olhar na cara dele. Rezei, mas não dormi.
Desatenta, quebrei um prato
enquanto preparava o almoço. Mais do que por esta bobagem, apanhei com cinto,
levei murro. Me chamava de puta, dizia que eu era uma vadia. Se minha mãe não
tomasse conta, acabaria engravidando de um vagabundo. Chorei, mas sem fazer
barulho. Eu tinha ódio, eu tinha muita vontade de fugir, mas não tinha para
onde. Xingava Deus por isso.
À noite, naquele mesmo dia, eu
ainda estava toda marcada por conta da surra. Fui dormir cedo, sono leve,
preocupado. Meu coração apertava, eu remoía uma culpa que achava ser só minha. Senti
aquela mão na minha bunda. Ele puxou minha calcinha, abriu minhas pernas e me
penetrou. Sem soltar um pio, tentando nem chorar, virei mulher aos dez anos de
idade. Não sei se doía mais lá embaixo ou no meu coração. Se eu pudesse, eu
não o mataria. Eu mataria Deus por isso.
Minha mãe quase não falava
comigo. Quando falava, era pra mandar fazer alguma coisa. Eu queria contar pra
ela, mas achava que ela já sabia. E toda noite ele vinha no mesmo horário.
Fazia sempre quase as mesmas coisas. De vez em quando, mandava eu fazer algo
nojento. Sem soltar um som, fazia o que ele mandava. Durante o dia, ele me
xingava. Não deixava mais eu ir pra escola, porque lá eu viraria puta. Puta era
a palavra que mais usava para me agredir. Mal sabia o que era puta, mas eu
preferia ser qualquer coisa do que ser eu.