Páginas

domingo, 19 de setembro de 2010

Pedro e a poça d'água

Estava cansado e com sono, caminhando numa rua deserta, quando, de repente, um carro passou numa poça e jorrou água suja em Pedro, que despertou definitivamente. Ele geralmente não prestava muita atenção em coisas como uma poça no chão, afinal, a rua era deserta e nunca passava carro lá. Assim que deu conta de que todo o uniforme estava molhado, Pedro resolveu voltar para casa e mudar de roupa para não ir todo imundo para a escola. Por sorte, ele estava ainda acerca de um quarteirão de casa.
O garoto molhado estava decidido a tomar banho, mas estava muito frio para isso, então ele resolveu apenas trocar de roupa... Então secou o rosto e os baços, trocou de camisa e seguiu para a escola, já que estava indo mal em matemática, disciplina do primeiro tempo, e não podia perder uma aula a mais... sua mãe o mataria se ficasse em recuperação de novo.
Três dias depois, assim que saiu do banho matinal antes da escola, Pedro olhou no espelho e percebeu que estava com manchas vermelhas nos braços e no rosto, justamente onde a água jogada pelo carro tinha batido. Ele mostrou à sua mãe e lhe contou toda a história. Foi ao médico imediatamente. Ana, mãe de Pedro, parecia levemente feliz com aquilo, pois havia acabado de fazer um plano de saúde para a família e estava doida para estrear os serviços caríssimos que vinha pagando.
Após a consulta, o médico disse que não tinha sido nada grave, apenas uma micose... Pedro só precisaria usar uma pomada e não coçar, principalmente não coçar. E era justamente o que Pedro vinha fazendo no caminho de casa até o consultório do dermatologista... Na verdade, desde a noite, anterior ele vinha coçando o corpo, principalmente os braços e o rosto.
De lá, eles seguiram imediatamente à farmácia de manipulação para encomendar a pomada – como Ana não tinha entendido a letra do médico, só fez entregar a receita ao farmacêutico. Mesmo doente, Pedro ficou feliz, pois não precisaria ir à aula naquela quinta-feira, mas seu corpo não parava de coçar e coçar... A pomada incomodava, ardia... E a vontade de coçar só fazia aumentar. Aquela pomada deveria aliviar a irritação, mas não estava adiantando de nada, muito pelo contrário. Pedro já estava ficando com raiva daquele incomodo todo.
A irritação era tão grande que ele acabou tirando a pomada, e continuou a coçar. Ele passou gelo, o que não adiantou; fez umas receitas caseiras que pegou na Internet, mas nada resolvia, absolutamente nada. E um dia depois de ter ido ao dermatologista, Pedro voltava ao consultório com a mãe. Agora, até mesmo os seus olhos estavam vermelhos: não tinha pregado os olhos durante a noite.
Ao ver o estado do rosto e dos braços do rapaz, o dermatologista ficou assombrado, perguntou o que mãe e filho fizeram de errado, afinal, passar pomada e ficar sem coçar não é uma coisa muito complicada para uma mãe e um menino de treze anos fazerem. Mas era o que parecia.
O médico conferiu a pomada que havia prescrito, mas a receita estava correta. Então ele pediu para conferir a pomada comprada, e para sua surpresa era a pomada errada. Pedro vinha usando uma pomada para outra enfermidade que, ao entrar em contato com a micose, causou esse efeito colateral.
– Eu falei pra você conferir o nome do remédio, menino...
– Mãe, o cara da farmácia me deu esse e mandou conferir com a cópia da receita, pois a que a gente deixou lá tava no arquivo ou foi pro Ministério da Saúde, sei lá...
– E você não conferiu por quê?
– Porque esqueci a receita...
– Bem feito... isso é pra você aprender a lembrar das coisas.

Para a sorte do garoto, o médico dermatologista deu um jeito. Ele mesmo aplicou uma pomada que imediatamente aliviou a irritação e a coceira. Com três dias, Pedro já havia notado a diferença e não passara a noite querendo arrancar a pele do braço e do rosto. Quem não gostou nada da história foi a irmão de Pedro, Cíntia, que estava escrevendo um conto sobre mutação... era a história de um menino que se expôs a determinado produto e ganhou o poder de camaleão... mas não era um herói esse protagonista, era o vilão da destruição da paz do mundo.

Nenhum comentário: