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Não é que seja careta, mas não
frequento muitos bares. Não enfrentaria uma espera mortal pelo transporte
público caótico do meu bairro, nem pagaria caríssimo por um taxi. Não é nem
medo da Lei seca, mas, de fato, de verdade, sem hipocrisia, eu, realmente, não acredito
que é legal dirigir após beber. Nunca fiz isso, e não estou muito disposto a
testar a minha perícia etílica. Enfim... esta história se passa num café.
Na mesa ao lado, duas amigas
conversam. Apesar de estarem numa das cafeterias mais legais, elas pediram chá
e broas. Nem sei se chá combina com broas... só tomo chá como medicamento.
Claro que, além de curiar o pedido, eu atentei os ouvidos para escutar um
assunto que me interessa: religião.
– Teresa, você não sabe o que
aconteceu esse final de semana. Gabriel está impossível.
– O que foi? – perguntou a amiga.
– Eu disse a ele: – Vá dormir que
amanhã a gente vai cedo à missa. E ele respondeu: – Mãe, eu tenho dúvidas se eu
quero ser mesmo católico, disse o filho.
– Olha só, Tereza. Olha o que
esse menino me disse!
– O que você falou?
– Na hora, eu tive vontade de
brigar, mas eu falei: – Olha, a gente pode sentar e conversar bastante sobre
isso daí. – Isso é bem coisa do pai – disse mulher. – Gilberto já mudou não sei
quantas vezes de religião. Eu sabia que isso um dia ia acabar acontecendo, mas
ele só tem oito anos.
– Mulher!... – espantada, a
Teresa exclamou.
– Você não fez a primeira
eucaristia, Gabriel? Você não vai à missa comigo todo domingo? Você não presta
atenção no que o padre fala?
– E ele disse o quê?
– Não sei, mãe. Não estou muito
convicto – repetiu a mãe. – Vê se pode, Teresa. O que diabos um menino de oito
anos tem na cabeça pra falar em convicção? Olha, nessas horas o padre Manoel
faz falta... Ele ria saber o que fazer... agora estou enrolando pra continuar a
conversa com Gabriel.
– Sim... o que aconteceu com o
padre Manoel?
– Olha, o bispo não quis o padre
mais na paróquia. Falou que, enquanto ele estivesse vivo, o padre não
comandaria igreja nenhuma em sua região.
– E o que o padre Manoel fez?
– Mulher, ele é carioca, cheio de
gírias, muito simpático. Agora, ele está numa igreja lá no Acre.
– No Acre?
– Sim... Encontrei com ele na
Jornada Mundial da Juventude, no Rio. Ele disse que tinha sido perseguido pelo
bispo... ele era muito divertido, as pessoas não iam mais às outras paróquias,
aquela igreja sempre ficava lotada. Transferiram o padre por isso...
– Vish...
Rodrigo Slama 25/05/2015