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Mostrando postagens de 2025

Pavão artificial

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  Começou com um bóton. Assim, ficava menos ruim ter que andar com a coleira de identificação na empresa. O primeiro pin foi um prêmio aos membros do melhor time do semestre. Arrasaram nas vendas. O líder teve a ideia e a premiação estava lá no pescoço dos seus liderados. Depois, uma colega colocou um broche de sua banda favorita. Como assim, ela tem dois enfeites e eu só tenho um, pensava. Foi lá e comprou um mimo para si e seu crachá. Um meme, redondo com alfinete, sobre a sua profissão. Os colegas repararam, começou a receber elogios e empolgou-se.           Suas redes sociais, timidamente, começaram a ser preenchidas de fotos, vídeos curtos e, principalmente, bumerangues que mostravam seus bótons, agora, cinco. Quanto mais engajamento gerava, mais pins colocava. Quase diariamente, acrescentava algo no cordãozinho. Viciou-se, não se sabe se nas curtidas ou nos enfeites, e logo teve de enfrentar um problema: não havia mais espaço na ...

Exu do Pix

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  Tem um tempo já que minha namorada e eu estamos frequentando terreiros. Não importa se é Umbanda, Jurema, Candomblé... A gente vai pela comida. Ela que me convenceu. Eu mesma não acredito em muito coisa não, nem ela; típico de um casal de Taurina com Capricorniana. Mas temos amigos religiosos e gostamos das danças, das roupas... Sempre é divertido. Mas da última vez que a gente foi eu não gostei não. Primeiro que tinha que cumprimentar um bode na entrada. Eu nem sabia que se cumprimentava bode. A gente entrou, começou a gira. Uma entidade veio falar comigo. – Suncê nunca tinha vindo aqui no canzuá não, né, fia? – Não, aqui não – respondi. – Intonce minha fia vai lá e fala com o bode. Fui. Chegando lá, me mandaram cumprimentar o bode. Cumprimentei. Disseram que ele me cumprimentou de volta, mas como nem sabia que se cumprimentava bode... Depois daí tudo começou a ficar esquisito. Eram mais de cinquenta galinhas ali sendo mortas, o lugar cheio de sangue, as crianças vendo...

É preciso um estrangeiro para desneymarizar a Seleção

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  Um deus para Enzos e para o Intagram da CazéTV, Neymar tem chorado em campo e, mais uma vez, fica de fora da convocação de Ancelotti em jogo contra o Chile, já já. Fazia tanto tempo que não trabalhava, que o corpo ainda está de férias. Tudo bem, o menino precisa se recuperar mesmo... foram anos de farras, polêmicas, sonegação de impostos... Mas já já ele estará em forma, dizem os médicos, os comentaristas e os fãs. Nem ele mesmo acredita nisso, nem sequer quer. Só olhar para o tempo que está de volta aos campos e de como não chega sequer perto do jogador que fui um dia. Segundo o treinador do debate com os 30 gordos, corpo é questão de escolha. Se Neymar quisesse, estaria em forma. Ah, mas a função dele na Seleção seria motivar a equipe, seria um líder, o mais experiente... Com mais amarelos do que gols, se for. A mesma lorota foi falada sobre Daniel Alves, o condenado por estupro em primeira instância, ex-presidiário absolvido por quatro juízes catalães. A Seleção não chegou n...

A Gripe e a Cândida

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Chego na sala VIP. Estão lá Marlon e Dimitri. Sigo em direção à cafeteira.  – Bom dia, bom dia! – eu disse. – Dimitri, gostei da camisa. – Obrigado, é bem nordestina! – e era. Certamente, iria para casa, ao contrário de mim, já fardado. – Comandante Felié, tô sentindo sua voz rouca. Te pegaram, né? – disse Marlon rindo seu riso peculiar. – Foi, acordei com a garganta incomodada. – Semana passada eu tava arrebentado, me pegaram, quase morri! – disse o comandante, multiartista, produtor de um jardim orgânico e assinante de cursos livres digitais. – Quem trabalha pessoas, como nós, pega uma gripe de vez em quando. É normal – falei partindo para o sofá. Minha garganta tá chata e eu não quero conversar com quem quer que seja. Vou ler as notícias, tomar meu café e seguir pro avião calado. Com o mínimo de interação possível.   – Cuidado com a Cândida! – diz Dimitri. Eu, supreendentemente surpreso, dada a qualidade dos assuntos que circulam no ambiente máximo de interação da companhia...

Demora do lixo, me dá um cigarro

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  Estou lá fora, na chuva e na esperança dela cagar logo pra subir. Um casal de vizinhos vai até a casa do lixo. A cadela se distrai e desarma a sentadinha do cocô. Eu deixei o lixo instantes antes. Eu fui até a porta do lixo e joguei o lixo na primeira lixeira destinada ao lixo não-reciclável. Eles tinham papelão. Mudaram-se recentemente? Penso nisso agora, apenas. Será que procuravam a tambor dos papéis? Aqui a gente separa, mas a casa do lixo é uma bagunça. É meio dedutivo a escolha por onde colocamos os recicláveis que separamos, mas lá... lá na hora é roleta! A lixeira do papel pode conter vidro. Pode ter vidro no chão. Pode ter lata no vidro. Por que demoram tanto neste lixo? Simpáticos, cumprimentaram ao passar. Boa noite, olá. E a cachorra se distraiu naquele momento e não cagou. E por que a demora? Eles querem conhecer a vizinhança pelo lixo como no texto do Veríssimo ou só estão procurando algo específico, algo que jogaram antes por engano? A cachorra não caga, eles não...

Entre o semáforo aberto

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    Há dias adio escrever sobre isso. Quanto tempo uma lamparina cheia de gordura saturada demora para apagar? Apaga? O fato é que nunca acreditei na escrita como terapia ou autoajuda, ou de autoajuda. Mas por que não seria? Por textos atravessados, um eu literário, ou personagens, usamos linguagem, bem ou mal, bela ou imbecil, e todo texto de ficção ou não forma nossos divertidamente, inclusive, filme e título maravilhosos. A demora em começar um novo parágrafo é metáfora da procrastinação companheira. Seja para cuidar melhor da minha filha, para cuidar mais de mim, para não fazer os projetos esquecidos, quase mortos que teriam alguma chance se vissem a luz que não passa pelo tampo da gaveta... Mas vamos lá. Vou começar pela morte, pela tragédia, por como eu queria não ter empatia e, assim, ser mais leve. Não me lembro de ter perdido um aluno ou ex-aluno. Esta é a vantagem de ser professor de gente jovem... A gente vê as transformações nos seus estilos, vê sua rebeldia ...

R'Orfanato

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  Os Poodles foram ignorados... depois os Golden, os gatos pelados. Calopsita já era, mas ainda tem quem goste. Já passaram o Kichute, os lenços de pescoço, o tomara que caia, Crocs... tudo passa. Ninguém come mais palha italiana, paleta mexicana, mas o Ninho com Nutella e o pistache resistem. – Isso são apenas negócios... somente produtos. – Até os cachorros? – Claro, todos os animais, videogames, raquetes de beach tennis! Tudo é só um jeito de ganhar dinheiro.    – Mas com os bebês é diferente, né, mãe? – Olha... sei que é difícil aceitar, mas não... Com os bebês não é diferente. Eles são produtos. – Como pode alguém achar que bebês são produtos? – Então... tudo começou com amor mesmo. As pessoas gostavam, queriam ter os bebês... Era um tempo de certo alívio. O país, mesmo imperfeito, saía de um tempo muito sombrio, um dos mais sombrios até aquele momento. Por isso, todo mundo tinha muito afeto represado, muito amor guardado. Lembra das aulas sobre pandemi...

Pipoca de graça, sinapses invadidas

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  Semana bosta. Preguiça, ansiedade. Gente fazendo merda. Livros não caem do céu, que burrice! Mas é isso. É sábado e tem peça legal e de graça na Rampa. Tem que chegar cedo para pegar lugar e aproveitar a pipoca de gratuita. – Eles fazem peça de graça e dão pipoca por que são bons, pai?   – Não. É para ter desconto no imposto. – Mas isso é ruim? – Não, todo mundo ganha. A gente, o artista e a empresa que se promove. – Ah – disse em tom de “entendi” e encerrou o assunto. Se ela entendeu, quem, diabos, sabe? Às vezes, é mais esperto se fazer de doido para não endoidecer de verdade. Preciso anotar isso. – Quer pipoca? – Sim. E fomos para a fila. Três filas. Três grandes filas. Pipoca de graça, tudo bem. No fim de uma delas, apenas, sacos cheios de pipoca nas mãos dos que esperavam. – Qual a diferença entre as filas? – Esta é paga, as outras duas são de graça. – Ah, Obrigado. – Hei, vamos para a fila da pipoca de graça!          ...