Chego na sala VIP. Estão lá Marlon
e Dimitri. Sigo em direção à cafeteira.
– Bom dia, bom dia! – eu disse. – Dimitri,
gostei da camisa.
– Obrigado, é bem nordestina!
– e era. Certamente, iria para casa, ao contrário de mim, já fardado.
– Comandante Felié, tô
sentindo sua voz rouca. Te pegaram, né? – disse Marlon rindo seu riso peculiar.
– Foi, acordei com a
garganta incomodada.
– Semana passada eu tava
arrebentado, me pegaram, quase morri! – disse o comandante, multiartista, produtor
de um jardim orgânico e assinante de cursos livres digitais.
– Quem trabalha pessoas, como
nós, pega uma gripe de vez em quando. É normal – falei partindo para o sofá.
Minha garganta tá chata e eu não quero conversar com quem quer que seja. Vou ler
as notícias, tomar meu café e seguir pro avião calado. Com o mínimo de
interação possível.
– Cuidado com a Cândida! –
diz Dimitri.
Eu, supreendentemente
surpreso, dada a qualidade dos assuntos que circulam no ambiente máximo de
interação da companhia, perguntei com o meu sarcasmo companheiro: – Candidíase,
Dimitri? Na minha viagem não tenho a menor possibilidade de pegar isso
não.
Marlon riu, também
incrédulo. Dimitri se constrangeu e disse que era brincadeira. Sentei-me no
sofá enquanto Marlon explicava o que era candidíase – explicou certo – falou
que era mais propenso em mulheres (não com essas palavras), abordou a questão
da imunidade e esclareceu que, ao contrário do que o senso comum pode sugerir,
não é uma infecção restrita ao ato sexual (também com outros palavras, claro).
Além disso, mostrou ao meu colega comandante um vídeo do médico infectologista
Ricardo Kores, que faz um excelente trabalho de divulgação científica médica
nas redes sociais, aliás.
E assim, nuns poucos metros
quadrados do Hangar 10, um “bom dia” roco se transforma em um diálogo, ancorado
em Discurso de Autoridade, sobre vírus e infecções.
Rodrigo Slama, 31.07.2025
*Imagem gerada por IA