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domingo, 10 de agosto de 2025

A Gripe e a Cândida



Chego na sala VIP. Estão lá Marlon e Dimitri. Sigo em direção à cafeteira.

 – Bom dia, bom dia! – eu disse. – Dimitri, gostei da camisa.

– Obrigado, é bem nordestina! – e era. Certamente, iria para casa, ao contrário de mim, já fardado.

– Comandante Felié, tô sentindo sua voz rouca. Te pegaram, né? – disse Marlon rindo seu riso peculiar.

– Foi, acordei com a garganta incomodada.

– Semana passada eu tava arrebentado, me pegaram, quase morri! – disse o comandante, multiartista, produtor de um jardim orgânico e assinante de cursos livres digitais.

– Quem trabalha pessoas, como nós, pega uma gripe de vez em quando. É normal – falei partindo para o sofá. Minha garganta tá chata e eu não quero conversar com quem quer que seja. Vou ler as notícias, tomar meu café e seguir pro avião calado. Com o mínimo de interação possível.  

– Cuidado com a Cândida! – diz Dimitri.

Eu, supreendentemente surpreso, dada a qualidade dos assuntos que circulam no ambiente máximo de interação da companhia, perguntei com o meu sarcasmo companheiro: – Candidíase, Dimitri? Na minha viagem não tenho a menor possibilidade de pegar isso não. 

Marlon riu, também incrédulo. Dimitri se constrangeu e disse que era brincadeira. Sentei-me no sofá enquanto Marlon explicava o que era candidíase – explicou certo – falou que era mais propenso em mulheres (não com essas palavras), abordou a questão da imunidade e esclareceu que, ao contrário do que o senso comum pode sugerir, não é uma infecção restrita ao ato sexual (também com outros palavras, claro). Além disso, mostrou ao meu colega comandante um vídeo do médico infectologista Ricardo Kores, que faz um excelente trabalho de divulgação científica médica nas redes sociais, aliás.

E assim, nuns poucos metros quadrados do Hangar 10, um “bom dia” roco se transforma em um diálogo, ancorado em Discurso de Autoridade, sobre vírus e infecções.

 

Rodrigo Slama, 31.07.2025



*Imagem gerada por IA