Estava em um bairro afastado, na Zona Sul. Não tinha problemas, iria
cobrar o de costume. Iria satisfazer, mais uma vez, os desejos sexuais de
alguém que, provavelmente, não lhe atrairia. Antes de chamar o moto-táxi de
sempre, ligou para a farmácia e pediu alguns estimulantes sexuais... estava
tomando cada vez mais comprimidos para impotência.
César foi para o
motel de sempre se encontrar com um cliente diferente. Tinha esperança de ser
alguém que chamasse atenção, despertasse algum desejo, que fizesse curtir a
experiência. Não aconteceu. O parceiro momentâneo era como ele: alto, sarado,
moreno, jovem. Não se atraía por tipos comerciais. E nem se atraía pelo oposto:
baixo, gordo, branco, coroa. Na verdade, se atraía por um tipo bem particular:
alto, pernas finas e braços fortes, tatuagens, cabelos pintados, asiático.
Antes de cumprir a
sua função de especialista, tomou uma dose maior de estimulante porque o
cliente era muito feio, e ele já tinha trabalhado pela manhã e parte da tarde.
Terminado o serviço, cliente satisfeito, pagamento feito... só faltava uma
coisa: o pinto baixar.
Quase se desesperou.
Tomou banho frio, tentou pensar que a mãe estava morrendo, procurou fotos da
Ana Maria Braga de topless. Nada. Continuava a todo vapor. Não sabia o que
fazer. O cliente deveria voltar para casa: aniversário da esposa, jantar,
sobremesa, vinho.... Não tinha jeito, César não podia esperar. Chamou o
moto-táxi de sempre, estava ocupado. Não poderia pagar um táxi, muito menos
voltar de ônibus. Chamou um moto-táxi desconhecido.
Num primeiro momento,
achou que era um assalto. Tentou recusar a corrida, mas precisava dos dez
reais. Cobrou quinze sem sucesso. A cada semáforo, a cada quebra-molas, a moto
empurrava o passageiro contra o piloto, que já quase sentava no tanque. A chuva
apertava, o pneu estava meio careca. Dez reais não valiam tanto assim.
César foi abandonado
no meio do caminho. Estava constrangido, molhado, humilhado e sem saber como
voltaria para a Zona Norte. Tentou abrigo sob a marquise de uma pastelaria. Lá
de dentro, saía um chinês de pernas finas e um dragão tatuado no braço largo,
tinha um metro e noventa e três, cabelos loiros e uma toalha seca.