– Javé!
Javé, seu cretino! Abra logo essa porta!
– O
que foi, cão do inferno? Me deixe em paz. A cada dois mil anos é isso... Não dá
um tempo de paz!
– Javé,
eu te liguei esses dias, em 2018 depois de Cristo, e você prometeu que ia resolver
aquela bronca lá do babaca da Terra.
– E
não resolvi?
–
Resolveu, mas o filha da puta tá pra entrar lá em casa de novo.
– Lu –
tentou, Deus, acalmar o amigo – Eu não tenho nada a ver com isso. Eu já disse
que a Morte tem seus próprios planos... eu estou muito ocupado com essa merda
de universo pra me preocupar com um infeliz lá da Terra.
–
Porra, Javé! Cadê sua palavra?
– Para
de me chamar de Javé, Lúcifer, você sabe que não gosto mais desse nome demodê.
– Vai
pra uma porra, Deus! Eu não quero aquele arrombado lá em casa. O Adolf desde
que chegou me perturba... Veio um tal de Olavo dia desses... puta-que-te-pariu!
Num aguento mais essa vida, não!
– Já
falei que não posso fazer nada. Sai daqui logo que tenho mais o que fazer... tô
com um projeto de dinossauro não-orgânico aqui pra um planeta medíocre de Andrômada
e eu estou empolgado.
– Porra
nenhuma! O infeliz tá quase entrando e eu não quero!
– Caralho,
Diabo, tua obrigação é abrigar uns cretinos... faça seu trabalho quieto!
– Não.
Desta vez, não.
– Ah,
vai dizer agora que vai se rebelar de novo? Toda era é isso agora?!
– Olha
aqui, Javé. Se vira com esse B.O.... Eu mesmo não quero.
–
Porra, eu devia ter te feito mortal... eu não te aguento e nem eu posso
contigo. Olha, vou chamar a Morte aqui pra resolver isso agora.
–
Chamou, meu Deus?
–
Chamei, sim! Olha aqui, não mata o... Qual o nome do infeliz?
– Jair,
Javé!
–
Morte, não mata o Jair agora não o que o Cramunhão aqui não gosta dele e tá putinho
comigo.
– Senhor,
eu não posso adiar mais isso. Eu tenho uma lista enorme de tarefas a cumprir...
O senhor sabe que nunca durmo e...
– Sim,
eu sei... eu que te fiz, caralho!
–
Desculpe, pai. Eu não quis dizer isso, é que...
–
Olha, eu num quero esse puto lá em casa não.
– Satanás,
se cale que eu vou resolver.
O Diabo,
temeroso pela falta de resolução do seu problema, se calou desta vez.
– Morte, por favor, adia essa merda desse homem, por favor.
– Mas,
senhor, eu já adiei demais!
– Quem
manda nessa merda de Universo?
– O senhor,
meu Deus.
–
Então faz o que eu tô te mandando, caralho!
– Mas,
meu pai, o senhor mesmo me criou para cumprir a minha missão. Eu já adiei muito
esse trabalho e...
–
Morte, tu não tá querendo obedecer a Deus, é isso? – retrucou o capiroto.
– Com
licença, mas eu só devo satisfação ao meu pai.
– Uma
porra! Quase todo mundo que você mata vai lá pra casa... eu num aguento mais um
monte de alma sebosa, não, seu otário!
– Com
licença, senhor Diabo, mas eu só devo me reportar a Deus.
–
Então, porra! Faz o que tô te mandando. Não mata esse cara! – disse bem nervoso,
o criador de tudo.
–
Senhor, me perdoe, mas não posso cumprir esta ordem.
– Ah, fodeu
mesmo! Outro rebelde! – disse Deus furioso enquanto o Diabo aguardava impaciente.
–
Olha, Deus – disse a Morte. – Eu já estou cansada mesmo dessas ironias, dessas
ordens. O senhor não quer, tudo bem? Não mato esse ser humano, mas também não
vou mais matar ninguém! Estou entregando meu cargo.
– O
quê?
– Isso
mesmo, senhor! Me recuso a matar mais qualquer coisa da Terra. Estou me demitindo.
Adeus.
A Morte, simplesmente, saiu da sala de reuniões do paraíso deixando tanto o Deus
quanto o Diabo perplexos.
Rodrigo Slama, 05/05/22
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