Não dissimula
a pele quando afagada em êxtase. Feromônios, sabonete de aveia, vai saber? Nos
pulmões, o cheiro fazia casa. Inundava, zeloso, a vontade de ficar para sempre
grudado, como almas amaldiçoadas ao inferno. Fazer o que quando quereres, apesar
dos aromas, são limitados?
De
tanto que gostava de sua pele, elogiava. Ela, tentada, se convencia da finitude,
mas mostrava impavidez. Teve ideia. Engordaria, sem trabalho. Cheesecake e
coquinha, aumentava sua doce superfície matando dois vícios: a gula e a
responsabilidade. Engrandeceu seu exterior acima do coração.
Anestesia.
Corte. Cirurgia. Sem túnel de luz, tudo foi mal e terminou bem. Lipo. Limpa. Saía
esculturalmente moldada. Esculpida por Apolo em carrara. Do que sobrou, no
entanto, não deixou que destruíssem. Artesã melhor que ela não havia. Costurou
seu couro. Linda boneca fazia. Linda e sem vida, sem emoção alguma que alguém
conhecesse.
Inerte,
imóvel e invivída. Mulher tal como é era entregue. De que vale o cheiro, no
entanto, sem a alma? De que valem as almas, então, sem cheiro? Sabe lá!? O que não dissimula em pele não responde à realidade. Fazer o que quando quereres, apesar dos
aromas, são limitados? Que fazer?
Rodrigo Slama, 11/12/21