Era gari. Quando entrou, não
havia concurso. Agradeceu, passou a ter uma renda fixa, era funcionário público
estatutário. Todo domingo, ia pra missa. Gostava de rezar. Carregava o terço de
Fátima no pescoço. Não falava muito. Não pensava muito. Apenas trabalhava,
recolhia lixo e rezava. Casou moço. Sua esposa não sabia ler e escrever. Era
assim de pai e mãe. Ele sabia escrever e ler. Pouco, mas sabia. Durante o
trabalho, não precisava disso. Precisava só usar luva, boné e as pernas.
Trabalhava no caminhão. Andava pendurado por cinquenta metros e corria mais cinquenta
a cada esquina. Era tanta sujeira que banho não bastava para tirar o óleo da
sua pele. Ele e a mulher já estavam acostumados. Passaram anos. Ele se
aposentou. Não aconteceu nada que mudasse sua vida.
texto de 2015
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