Eles conseguiram dar o golpe.
Houve resistência, guerra civil. Lula morreu, Chuchu derreteu. Acabou. Havia
215 milhões aqui, não sobrou mais nada. Uma terra arrasada. O continente
dizimado. Sobrou pouca coisa. Era melhor continuar num estado de exceção ou ter
morrido todo mundo? Vai saber... Agora tudo é pó. Não existe mais nada, não há
mais nada.
Anos passaram. O sol começou a
aparecer. Alguns humanos começaram a retornar à superfície. Todo mundo
apavorado. Todo mundo sem criticidade. Sobreviveu só a massa. Os intelectuais,
líderes, políticos... todos morreram. Pareceria que o país fora fadado à extinção,
não fossem os homens magros saídos das cavernas.
Aos poucos, todos se agruparam.
Não tinha sobrado mesmo muito lugar pra viver. O que outrora o Sudeste, era
apenas o centro... o que restou. Uma ilha sem vizinhos, sem floresta, sem
qualquer coisa que lembre um país ou mesmo uma comunidade. Era apenas uma terra
destruía, cercada de mato e nenhum fruto. Tudo um deserto de ervas daninhas e
sobras de concreto e construções.
Não havia gente, quase. Uns
morreram na guerra, outros pelo colapso da energia e do ar. Sobreviveram por
quase duas décadas no submundo, nos esgotos, nos rincões. Alguns comeram carne
humana, outros se restringiram a ratos e tatus. Sobreviveram, afinal, não se
sabe por misericórdia ou maldade divina. Mas estavam de volta e conseguiram
respirar.
Não demorou muito, veio o
salvador. O mais velho, o único líder sobrevivente. A única pessoa que poderia
tocar o Brasil em frente. Era ele, tinha que ser ele, era a vez dele. O que ele
não pôde fazer antes, faria. Governaria o país pela escolha unânime dos
sobreviventes. O golpe que motivou a guerra enfim mostrava a que vinha. Era a elite
de volta ao poder. Era Minas de volta ao poder. Aécio Neves, presidente aos oitenta e dois anos.
Rodrigo Slama 24/11/22
Para mais textos, acesse Pastor e outras histórias
* Imagem do Google