Depois de muitos anos sem pisar
na Terra, resolveu ir num lugar que não frequentava muito. Pegou a mochila, um mapa
impresso e um casaco pesado. Queria ver as pinturas sobre ele de que tanto
falavam.
– Museu grande da porra! Maior
que muita igreja por aí! – pensou boquiaberto o Senhor.
Foi pegar um guia, tinha de um
bocado de idioma, menos no seu. Quem liga para a língua de Jesus? ... Passou de
sala em sala. Mirou. Achou estranho ser pintado como um homem bem branco, mesmo
nascido no árido... Andava e revia o mesmo retrato de sua vida. Se via apenas
como um signo, limitado.
– Meu Senhor, chegou antes do previsto das
férias?
– Pois é, Biel. A galera lá é
muito esquisita. Só tem pintura minha sendo morto.
– Não é de se estranhar, Senhor
Jesus! A Sua morte é simbólica para a Humanidade... marca seu tempo, sua moral...
– Sim, mas SÓ me pintam
morrendo... no máximo ressuscitando. Fiz tanta coisa, mas só querem mostrar meu
sangue, meus olhos, minha coroa de espinhos!
– E o que seria melhor que
retratar a Salvação do Mundo?
–
O quê? Fiz vinho do bom, multipliquei os pães, fiz o peixe ser
compartilhado pelo povo, curei uma pá de gente e o só sabem me pintar morrendo?
– Não é sobre Sua morte, é sobre
toda Sua vida!
– Ah, vá!
– E da igreja que Senhor queria
ver, gostou?
– Não entrei. Tava muito caro o
ingresso. Achei melhor gastar o dinheiro com cerveja.
Rodrigo Slama 20/03/23
*Imagem do Google