Deu tudo
certo, a festa foi linda e nenhum incidente que oferecesse algo além de mais vergonha
aos famigerados e fundamentalistas lunáticos aconteceu. Dia 01 de janeiro de
2023. No relógio, já era dia 02, mas o dia só muda quando a gente dorme. E o
Presidente – sim, sempre, ele, com P maiúsculo – não poderia dormir sem cumprir
mais um ritual, improtocolado.
– Olá, meu
velho amigo.
– Opa! Quanto
tempo... Estava te esperando.
– Eu sei, Companheiro
Ema, mas o dia hoje foi corrido. Vim pra cá assim que deu, sabe?
– Não tô
falando de hoje, Barba. Você sabe o que eu e as outras Emas passamos?
– Mas,
companheiro. Não dependia de mim!
– Tem menino
novo aqui que acha que é mentira que aqui já teve morador legal. Eu conto as
histórias e o pessoal nem lembra. Dos antigos, só fiquei eu.
– Sinto muito.
Eu fiquei sabendo.
– Mas não veio
aqui fazer uma visita.
– Eu não
podia. Eu também fiquei preso por conta de todo esse golpe contra o país.
– Barba, a JurEma,
minha esposa, morreu!
– Sinto muito.
Sei o que você está sentindo.
– Sabe não, Barba!
Você tá casado com uma gata. Eu já tô velho e ninguém daqui me quer.
– Eu vou
mandar botar mais algumas emas fêmeas aqui no jardim.
– Não é sobre
isso, cara. Você não tem noção!
– Eu tenho,
companheiro. Estou aqui hoje para falar contigo. Eu poderia estar transando
agora e tô aqui! – disse o Presidente sorrindo.
– Ah, vá. Mas não
tem noção mesmo! O maluco queria me dar remédio de malária, meu irmão.
– Mas você fez
muito bem em ter bicado ele, companheiro! – disse o Presidente meio cansado,
mas rindo bastante com o reencontro.
– Saiu no
jornal, né?
– Saiu em tudo
quanto é canto! Até eu que não tenho celular vi os memes.
– Ainda bem
que alguém riu desta história – disse Ema claramente mais leve.
– Agora as
coisas vão mudar. Vamos tomar cerveja e comer picanha, companheiro... e...
– Porra,
Barba, tu vai meter esse papo carnista pra cima de mim?
– Desculpa,
companheiro Ema. Vou mandar lá no cocho aquela ração premium que você gosta.
– Sério? – perguntou
a ave extremamente animada.
– Claro,
companheiro. Eu disse que a gente ia sorrir de novo.
– Verdade... tô
rindo aqui e nem tenho dentes – disse Ema sorrindo.
– Vamos sorrir
muito ainda, companheiro. Está só começando.
Rodrigo Slama 30/12/22