Era uma novidade de mais de vinte
anos. Uma esperança frágil, desconfiável de quase metade dos descidadãos. Poucos
permaneciam marginalizados frente à escolha, quase pseudo, mas existente. Vinha
de avião, canoa, escoltada. Ela vinha! Chegava em todo lugar, chegava onde não
havia saúde, onde não havia lazer, onde não havia comida e onde, sobretudo, não
há educação!
O tempo todo na TV até hoje. É
fácil! Laranja, verde, branco, números, foto e letras. Uma antiga caixa
conhecida e vítima de terraplanismo, mentira fundamentalista para manter o
poder em marionetes, um poder pouquissimamente perfurado por uma base de boa
vontade, mas de pouca instrução, pouca desconfiança e pouca credibilidade. Uma
base vítima da desinformação, do desestudo dos milhões rejeitados e de quem
projeta a permanência da miséria em todo futuro alheio.
Resistência! Símbolo de inclusão,
modernidade, democracia. Para quem? Não para todos, claro, mas o melhor do que
existe, melhor fruto do que o limitado cérebro primata conseguiu alcançar. Segura,
o que há? Quem é ela? Quem ela guarda, o que ela guarda, o que nos aguarda?
Ah... ela não chega, sonhamos, jamais um sonho perfeito, mas o fim do pior
pesadelo de toda uma gênese, inédita a duas, algozmente legitimado pela nossa
salvadora apunhalada por quem se sorriu jubileu no inverno eterno infernal da
última geração.
Não sei, ninguém sabe. Toalhas
não cantam, telefones não caminham às escolas. E o café clareia, o feião afina,
e o coração aperta, a cana já não basta, até o futuro escureceu. Foi embora o
lirismo, só versos e cenas de resistência aparecem nas telas. E é tanta tela
que ninguém vive mais.
Rodrigo Slama 01/08/22