Eu tava no muro tentando olhar
para a vizinha da frente, mas não vi. Via a mãe dela, uma mulher chata que
inveja a vida das pessoas, que chifra o marido com um dos amigos do bêbado que
ele se tornou por conta da traição. A mãe dela se transformou num bode, num bode
voador... parecia a aquele cachorro da história sem fim, mas ele era bem menor,
e tinha chifres, e carregava uma bolsa rosa. O bode tentava impedir que uma
pomba levasse seus temperos mágicos que seriam colocados na merenda barata e
superfaturada da escola pública do bairro distante. Um bairro conhecido pelas
suas altas taxas de criminalidade, um bairro pra onde iriam adolescentes de
classe mérdia comprar talco de narina de senador e desencaminhar mocinhas quase
inocentes. Vi tudo isso com a minha luneta.