Estava cansado e com sono, caminhando
numa rua deserta, quando, de repente, um carro passou numa poça e jorrou água
suja em Pedro, que despertou definitivamente. Ele geralmente não prestava muita
atenção em coisas como uma poça no chão, afinal, a rua era deserta e nunca
passava carro lá. Assim que deu conta de que todo o uniforme estava molhado,
Pedro resolveu voltar para casa e mudar de roupa para não ir todo imundo para a
escola. Por sorte, ele estava ainda acerca de um quarteirão de casa.
O garoto molhado estava decidido a
tomar banho, mas estava muito frio para isso, então ele resolveu apenas trocar
de roupa... Então secou o rosto e os baços, trocou de camisa e seguiu para a
escola, já que estava indo mal em matemática, disciplina do primeiro tempo, e
não podia perder uma aula a mais... sua mãe o mataria se ficasse em recuperação
de novo.
Três dias depois, assim que saiu do
banho matinal antes da escola, Pedro olhou no espelho e percebeu que estava com
manchas vermelhas nos braços e no rosto, justamente onde a água jogada pelo
carro tinha batido. Ele mostrou à sua mãe e lhe contou toda a história. Foi ao
médico imediatamente. Ana, mãe de Pedro, parecia levemente feliz com aquilo,
pois havia acabado de fazer um plano de saúde para a família e estava doida
para estrear os serviços caríssimos que vinha pagando.
Após a consulta, o médico disse que
não tinha sido nada grave, apenas uma micose... Pedro só precisaria usar uma
pomada e não coçar, principalmente não coçar. E era justamente o que Pedro
vinha fazendo no caminho de casa até o consultório do dermatologista... Na
verdade, desde a noite, anterior ele vinha coçando o corpo, principalmente os
braços e o rosto.
De lá, eles seguiram imediatamente à
farmácia de manipulação para encomendar a pomada – como Ana não tinha entendido
a letra do médico, só fez entregar a receita ao farmacêutico. Mesmo doente, Pedro
ficou feliz, pois não precisaria ir à aula naquela quinta-feira, mas seu corpo não
parava de coçar e coçar... A pomada incomodava, ardia... E a vontade de coçar
só fazia aumentar. Aquela pomada deveria aliviar a irritação, mas não estava
adiantando de nada, muito pelo contrário. Pedro já estava ficando com raiva
daquele incomodo todo.
A irritação era tão grande que ele
acabou tirando a pomada, e continuou a coçar. Ele passou gelo, o que não
adiantou; fez umas receitas caseiras que pegou na Internet, mas nada resolvia,
absolutamente nada. E um dia depois de ter ido ao dermatologista, Pedro voltava
ao consultório com a mãe. Agora, até mesmo os seus olhos estavam vermelhos: não
tinha pregado os olhos durante a noite.
Ao ver o estado do rosto e dos braços
do rapaz, o dermatologista ficou assombrado, perguntou o que mãe e filho
fizeram de errado, afinal, passar pomada e ficar sem coçar não é uma coisa
muito complicada para uma mãe e um menino de treze anos fazerem. Mas era o que
parecia.
O médico conferiu a pomada que havia
prescrito, mas a receita estava correta. Então ele pediu para conferir a pomada
comprada, e para sua surpresa era a pomada errada. Pedro vinha usando uma
pomada para outra enfermidade que, ao entrar em contato com a micose, causou
esse efeito colateral.
– Eu falei pra você conferir o nome do
remédio, menino...
– Mãe, o cara da farmácia me deu esse
e mandou conferir com a cópia da receita, pois a que a gente deixou lá tava no
arquivo ou foi pro Ministério da Saúde, sei lá...
– E você não conferiu por quê?
– Porque esqueci a receita...
– Bem feito... isso é pra você
aprender a lembrar das coisas.
Para a sorte do garoto, o médico
dermatologista deu um jeito. Ele mesmo aplicou uma pomada que imediatamente
aliviou a irritação e a coceira. Com três dias, Pedro já havia notado a
diferença e não passara a noite querendo arrancar a pele do braço e do rosto.
Quem não gostou nada da história foi a irmão de Pedro, Cíntia, que estava
escrevendo um conto sobre mutação... era a história de um menino que se expôs a
determinado produto e ganhou o poder de camaleão... mas não era um herói esse
protagonista, era o vilão da destruição da paz do mundo.